Ela é muito bonita, sabe? Tem aquele sorriso lindo com os dentes meio tortos, mas ainda assim, lindo. E os olhos cheios de sono e impaciencia, mas poéticos. A voz rouca e baixa que ela odeia, mas que eu adoro. E sempre prende o cabelo todo colorido em um emaranhado indefinido com certa beleza. Ela diz que parece um ninho de ratos e eu rio, porque é verdade, mas o meu está do mesmo jeito.
Ela se joga na sua cama, frustrada com a vida e eu me jogo do seu lado, igualmente frustrada por não conseguir escrever. Ela se vira e pisca e eu brilho. Uma poesia nova, dois textos e um livro.
Ela não tem nome, nem rosto, pois só existe em minha imaginação, mas é como se eu a conhecesse. Um dia, encontrarei-a na rua, bebericando café e falarei com ela.
"Ei, lembra de mim?"
E ela vai sorrir. E se lembrar de mim também, pois existia em sua imaginação.
Mas nunca nos conhecemos.