Passei tanto tempo dentro de uma pequena caixinha de vidro que o mundo lá fora já não me seduz mais. O tempo correu e mesmo cobiçando tanto a vida intensa, aprendi a gostar da solidão. Da companhia de mim mesma, das minhas opiniões.
Aprecio as histórias aventureiras lá fora e quero vivê-las tão intensamente, mas quando a oportunidade chega, desisto. Esqueço. Deixo para lá. Porque nada parece real. Nada é como nos livros, como nos filmes, como nas músicas. Às vezes sonhar é bem melhor que realizar.
De um lado, é bom ficar aqui, nessa caixinha de vidro, brincando com meus fios de cabelo, fazendo círculos com os dedos no chão, dormindo e sonhando com aquela vida intensa que quero, mas não quero. Mas de outro, é quase tedioso, rotativo, rotineiro. Mas um tédio do qual aprendi a gostar. Um tédio que amarrei a mim e agora não quero mais soltá-lo. Porque é meu. Porque sim.
Mesmo que as oportunidades da vida lá fora me chamem cada vez mais agora, não consigo deixar esse mundinho dentro da minha caixinha de vidro. Porque sou medrosa. Sou covarde. Sou orgulhosa. Sou tão apegada à minha melancolia solitária que não quero deixá-la. Não estou preparada. E não sei se algum dia estarei.